trash island #2 - moda indie virgil abloh e football manager
anotações adiadas pela cultura do grind que me obriga a trabalhar escrevendo em vez de compor e-mails
A VOLTA DO INDIE
(em 2014 eu também estava postando esse tipo de coisa no tumblr)
No mundo das microtendências fashion que surgem e somem nas redes sociais (principalmente o tiktok), uns dos rolês mais legais atuais é o “Indie Sleaze”. Se o zeitgeist mainstream ainda está obcecado pela virada do milênio, com o Y2K, alguns jovens mais inovadores já olham para a cultura hipster pós-crise de 2008.
Para entender a estética, pense nos clássicos do indie pop, na série britânica Skins com suas festas caseiras ao som de Crystal Castles, e na American Apparel, marca americana que já teve loja em São Paulo, conhecida pelas peças básicas e pelas propagandas provocativas em uma estética derivada do trabalho de Terry Richardson - assim como o fotógrafo, a marca desmoronou após múltiplas acusações de abuso contra seu criador.
O símbolo que canaliza essa estética é o Tumblr, última grande rede social sem algoritmos, em sua fase pré-desgraceira do Yahoo. No TikTok, a principal hashtag sobre o tema é #2014Tumblr, na qual os usuários replicam o feel geral do site nesse período, com as botas, as meias arrastão, a maquiagem carregada e a obsessão por nomes como Sky Ferreira, Lana Del Rey, One Direction e The Neighborhood.
Como nos anos 2000, a tecnologia retrô tem um papel essencial na tendência. Em vez das máquinas de escrever e dos discos de vinil, o acessório vintage da vez é outro, os fones de ouvido com fio - pense nos fones clássicos do iPod - que viraram tendência entre as celebridades. O que ainda é impensável de ser replicado no Brasil, onde os Airpods custam quase dois salários mínimos e o iPhone ocupa uma parcela pequena do mercado.
Para ter uma ideia do feeling visual desse rolê, além dos arquivos do Cobrasnake, do finado Hipster Runoff ou de reencontrar a senha do Tumblr, uma boa ref contemporânea é o editorial da Skims, marca de Kim Kardashian, com Megan Fox e Kourtney Kardashian. A peça replica essa estética publicitária hipster, mas com uma fotógrafa por trás das lentes, apontando para a possibilidade de uma reapropriação estética, mais diversa e sem os aspectos mais problemáticos que marcaram o mesmo período.
RIP VIRGIL
É sempre triste quando alguém jovem morre, ainda mais alguém cheio de potencial, ainda mais por uma doença tão fodida. O Virgil foi um dos maiores que vi, em todos momentos da carreira dava pra sentir aquela coisa da história sendo feita em tempo real.
Comecei a acompanhar o trabalho dele no #BEENTRILL, coletivo de DJs que também eram designers do início dos anos 10, de onde saíram alguns dos principais nomes da moda atual, como Heron Preston, Matthew Williams, da Givenchy, e Justin Saunders, da JJJJound.
Antes da OFF-WHITE ele ainda criou a Pyrex Vision, marca que transformava peças de outras em próprias - vender camisas da Ralph Lauren de 40 dólares por 500 gerou muitas críticas na época, mas acredito no toque de genialidade da sua representação estética da cultura do sample. Um dos designers mais interessantes da história, Miguel Adrover, baseou sua estética política na apropriação de peças de outras marcas em sua criação.
A OFF-WHITE é o capítulo mais documentado - o cinto industrial, as collabs com a Nike e as aspas são ícones culturais. Vou destacar então duas imagens recentes: o último desfile com a LV, inspirado em Liquid Swords, no xadrez e Lobo Solitário; e Kanye & Pharrell juntos curtindo um Clube da Esquina na despedida do designer.
Ainda que ele não esteja mais aqui, ficam algumas lições para os outros que seguem seu legado: A multidisciplinaridade, o pioneirismo abrindo espaço de maneira incontestável em uma indústria, e a fé na juventude, que sempre vai vencer.
FOOTBALL MANAGER
Tem um conto do Borges - que aparece no livro do Baudrillard - sobre um trabalho de cartografia tão perfeito que substituiu a realidade que retratava. Essa é uma metáfora que faria muito mais sentido com Flight Simulator, mas tenho medo de avião. O Brasfoot é um simulador de futebol. O FIFA é um simulador de cassino. O FM é uma entidade maior, algo que transcende qualquer noção de esporte.
A grandiosidade vem nos números: são pelo menos 250 mil jogadores reais dentro do jogo, em 120 ligas de 54 países - trabalho sustentado por alguns milhares de observadores na vida real, nesse texto dá pra ver um pouco como é o processo de botar Gibraltar no jogo. O que não vem de fábrica, é adicionado posteriormente pelos modders. Se isso não fosse o bastante, o gameplay do jogo envolve cuidar das finanças, das estatísticas, da psicologia, das contratações, da equipe técnica, das categorias de base e das relações com a imprensa. Os jogadores
Estou jogando desde 2007 quase toda versão, descobrindo anualmente que assim como Sylvinho, sou incapaz de transformar o Corinthians num time bom. Ainda assim, FM é o tipo de jogo que dá para ser bem casual ou perder toda sua vida tentando descobrir o futuro melhor lateral da história nas categorias de base de alguma ilha do pacífico. E agora está no Gamepass, resolvendo o problema de acesso das últimas edições.
ESTAMOS OUVINDO
Curtindo demais esse disco, é incrível como o mundo precisava de uma Ópera Miami Bass. Se Tá Solteira também é hit no TikTok, mt massa de ver esse processo.
MC Maha e DJ WS - Evangelion Automotivo
Os mechas são a evolução natural dos paredões de som
MC Levin - Ela Me Falou Que Quer Rave
Queria muito saber como foi o processo desse sample de Foster The People (também uma das bandas clássicas do indie do começo da última década)
Gosto bastante do Devotion, achei legal demais a guinada meio industrial, minimal synth, no novo dela.
A trilha do Forza Horizon 5 é meio decepcionante, são poucas músicas e entre elas uma boa parte é do Foo Fighters - passa longe do padrão de qualidade de Midnight Club 3 Dub Edition pirata de PS2 com uma rádio inteira só de músicas do Underground Resistance. Essa é das mais legais, um clássico do Holst que inspirou todas as trilhas de cinema do século seguinte.
Todo ano está entre os meus mais ouvidos, nesse não foi diferente. Drain Gang.
Arca - Kick ii, iii, iiii e iiiii
Quatro discos da Arca de uma só vez, meu favorito é o iii, o mais deconstructed club no sentido tradicional (existe isso?). iiii e iiiii são mais para música ambiente, enquanto o ii é um experimento bem massa com os ritmos latinos. Arca é uma das maiores criadoras que temos, e lançou mais música de uma vez do que em vários anos, imperdível.
HYPERLINKS
A Gen Z está obcecada com o Old Money: Por que isso pode ser problemático? (FFW) - Os jovens querem se vestir como os Kennedys (ou como Gossip Girl), o texto aborda as tretas envolvidas nisso. De minha parte, sou a favor de qualquer abordagem que seja mais subversiva do que aspiracional. Já estou me dedicando aos filmes de Whit Stillman, a melhor maneira de estudar a estética (e o lifestyle) da U.H.B.
Mr. Barricade (TikTok) - Um engenheiro que dedica seu perfil no TikTok a dois tipos de conteúdo: vídeos sobre planejamento urbano voltado a ciclistas e pedestres, e vídeos sobre comida ao som de Yung Lean. Sonho em atingir esse tipo de equilíbrio entre profissional e pessoal em minhas redes.
Crypto Is Cool. Now Get on the Yacht (NYT) - Relatos sobre o Woodstock das pessoas que pagam por JPGs de macacos. (Animado com as discussões sobre Web3, conceito que não sei quase nada)
Everyone Is Beautiful And No One Is Horny (Blood Knife) - Um ensaio sobre o cinema ultra musculoso e completamente desprovido de erotismo dos filmes de superheróis, em homenagem aos Eternos (que não assisti)
What happens when your favorite thing goes viral? (Vox) - O Mountain Goats, banda de indie folk dos anos 2000 que nos presenteou com “The Best Ever Death Metal Band in Denton” também foi um (micro) hit no TikTok.
Chaoyang Trap - Episode 3: Subor Smash Bros. Ultimate (Substack) - Recomendando uma newsletter dentro da newsletter, edição da Chaoyang Trap sobre os flash games que eram sucesso na China. Me identifico muito com as aulas usadas para jogar games flash e também fiquei marcado pelo Gold Miner, um clássico do Fliperama de quando estava descobrindo a internet lá para 2003.
Archeology of Virtual Worlds (Institute of Network Cultures) - Uma história dos mundos virtuais enquanto nos preparamos para o metaverso™.
INSANE GAME!! | World Chess Championship GAME 6 (Youtube) - Uma análise do jogo 6 do mundial de xadrez entre Carlsen e Nepo. História do xadrez em tempo real, mesmo para quem não entende tanto.
Why Is Fashion So Obsessed with the Metaverse (GQ) - Como as marcas estão se preparando para o metaverso e pq o tema é tão importante para elas. Escrevi sobre o mesmo tema na Elle View.
What Will Art Look Like in the Metaverse? (NYT) - Sobre Henri Rousseau o potencial estético do metaverso como nova linguagem pros criadores, desde que longe da mão dos tecnocratas.
FIM
Se curtiu, repasse, responda e/ou me envie muito dinheiro. Até algum dia.